Uma Campanha da Fraternidade ao gosto do Papa Francisco


O ecumenismo, já há muito, é uma das metas perseguidas pelos vários papas, e Francisco é um dos que lhe têm dado grande apoio. Existe, evidentemente, uma sintonia entre os vários temas das Campanhas da Fraternidade, promovidas pela CNBB, e os ensinamentos do Papa Francisco. Esse ano, contudo, essa sintonia é ainda mais evidente. Para começar, trata-se de uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, patrocinada pela Igreja Católica em comunhão com várias outras Igrejas cristãs.

O ecumenismo, já há muito, é uma das metas perseguidas pelos vários papas, e Francisco é um dos que lhe têm dado grande apoio. As Campanhas da Fraternidade Ecumênicas acontecem desde 2000 e são sempre uma grande oportunidade para crescermos na comunhão cristã, tão desejada por ele. Mas não é só isso… Com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14), a Campanha toca em dois pontos particularmente importantes na mensagem do Pontífice.

A unidade deve prevalecer sobre o conflito
Não é exagero dizer que, no Brasil, o conflito está mais vivo hoje do que em qualquer outro momento dos últimos 50 anos. Violência e dominação, infelizmente, são uma realidade sempre presente entre nós. Mas, nos tempos atuais, o conflito – isso é, o choque violento entre opiniões e posições – tornou-se a tônica dominante nas relações sociais, até mesmo no âmbito familiar. Cada vez as pessoas têm que banir mais temas em suas conversas para evitar conflitos aparentemente sem solução. Cada vez mais, argumentos violentos – vindos de todas as partes – se sobrepõem ao diálogo.

Na Evangelii Gaudium (EG), o Papa Francisco propõe que a unidade deve prevalecer sobre o conflito (EG 226-230). Não se trata de ignorar ou esconder os conflitos. Eles devem ser reconhecidos e enfrentados. Mas podemos entrar neles procurando aumentá-los, acreditando que só a destruição do outro pode trazer a paz e criar o bem comum, ou podemos entrar neles procurando criar verdadeiros consensos, que não são simples pactos negociados de não agressão, mas a melhor solução visando a construção da paz e do bem comum.

Podemos enfrentar o conflito com a violência – e aí nos tornamos instrumentos do mal, mesmo quando queremos construir o bem – ou com o diálogo sincero e aberto à verdade.

Dialogar sempre
Francisco é muito firme em suas convicções. Ninguém pode acusá-lo de tibieza ou conivência. Reafirma sempre que a identidade da Igreja é o anúncio do Evangelho e que devemos estar do lado dos pobres e dos excluídos, “em saída” rumo às periferias da existência. Mas, apesar de toda a sua firmeza, sempre considera que o diálogo é o caminho para a solução dos problemas sociais e religiosos. Testemunho claro de que a violência e o sectarismo não podem ser confundidos com firmeza, de que o diálogo e a abertura ao outro não são sinais de relativismo.

Já em 2013, na Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, durante o Encontro com a classe dirigente do Brasil, Francisco propunha três aspectos para a construção de um futuro melhor para todos os brasileiros: (1) o humanismo integral, respeitoso à nossa cultura original; (2) a responsabilidade solidária, que implica em lutar por justiça social e atenção para com os mais pobres e excluídos; (3) o diálogo construtivo. Insistia nesse último, dizendo: “Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo […] Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha resposta sempre é a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude aberta e disponível, sem preconceitos. Esta atitude aberta, disponível e sem preconceitos, eu a definiria como ‘humildade social’ que é o que favorece o diálogo”.

O Brasil precisa de nosso exemplo nessa Campanha da Fraternidade
Infelizmente, o conflito crescente na sociedade tem nos feito desacreditar do outro. Acreditamos que só aqueles que pensam como nós são bem intencionados, que as ideias diferentes são obrigatoriamente falsas. Com isso, deixamos de procurar o diálogo e acreditar no encontro. Pensamos que diálogo, encontro, unidade entre diferentes são ilusões enganadoras, que não podem acontecer na prática. Não percebemos que o diálogo, o encontro e a unidade deixam de acontecer não por serem impossíveis, mas sim porque nós deixamos de procurá-los. Quem não procura o diálogo, não encontra o diálogo, quem imagina que todos os demais são maus, só encontra pessoas más…

Que essa Campanha da Fraternidade Ecumênica nos ajude a uma verdadeira conversão, que nos contraponha à violência e a falta de empatia crescentes em nossa sociedade. Que nos tornemos realmente cristãos que seguem cada vez mais a Cristo e não à ideologia hegemônica, mesmo quando ela vem revestida com palavras sedutoras e enganadoras.

FONTE: Aleteia

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