”O amor antes do mundo”, primeiro livro de um Papa às crianças


“As perguntas mais difíceis a mim feitas não foram nas provas com os professores, e sim aquelas que me fizeram as crianças”. É o que disse o Papa ao receber crianças e organizadores por ocasião do lançamento do livro “O Amor antes do Mundo”, nesta quinta-feira (25/02), na Itália.

O livro – com as respostas às 31 cartas escritas por crianças de todo o mundo – foi inspirado e desejado pela Editora da Companhia de Jesus, nos Estados Unidos, “Loyola Press”. A previsão é que o livro seja lançado no Brasil em março.

Responder, às vezes, à pergunta de uma criança, pode nos colocar em dificuldade, porque a criança tem algo que vê o essencial e o pergunta diretamente, e isso produz um efeito de maturação interior em que escuta a pergunta. Ou seja, as crianças fazem os adultos amadurecer com suas perguntas”, disse ainda o Pontífice.

Após responder algumas perguntas de crianças de 9 países, Francisco confessou algo que lhe causa muita dor e comoção: quando encontra as crianças doentes nas Audiências gerais.

Me faço a pergunta que já se fazia o grande Dostoievsky: ‘Por que as crianças sofrem?’. E lhes asseguro que eu, o Papa, aquele que parece que sabe tudo e que tem todo o poder, não sei responder a esta pergunta. A única coisa que me ilumina é olhar esta Cruz, ver por que sofreu Jesus, a única resposta que encontro”.

E concluiu com um pedido: “Minha mensagem aos adultos é que estejam próximos das crianças que sofrem, e que ensinem às crianças a estarem próximas daquelas que sofrem”.

Abaixo, a íntegra de algumas respostas do Papa às perguntas das crianças feitas durante o encontro nesta quinta-feira.

Qual é o aspecto favorito em ser Papa?
Papa Francisco: Eu disse que as crianças fazem as perguntas mais difíceis de se responder. Estar com as pessoas, gosto muito de estar próximo às pessoas, porque estás com um idoso, com uma criança, com jovens e adultos. E cada um deles te ensina alguma coisa da vida e te faz viver a vida, e assim nos relacionamos com as pessoas. Sempre que estou com as pessoas aprendo algo, sempre. E isso é muito importante, também para a vida. Quando me encontro com uma pessoas, posso me perguntar: O que esta pessoa tem de bom? O que de bonito me ensinou? Ou, O que não gostei e que não tem que ser feito, ou mudar? Agora vou fazer uma pergunta para todos: O que é melhor, estar com as pessoas ou estar separado delas: (R: Próximos). Por isso, repito uma palavra que disse outro dia: Para ser feliz na vida é preciso fazer pontes com as outras pessoas.

Se não fosses Papa quem queria ser e porque?
Papa Francisco: Digo a verdade? Quanto tinha a sua idade, sem mais ou menos, a tua. Quando tinha a tua idade ia com a minha mãe ou com a minha avó ao mercado para comprar as coisas. Naquela época não existia o supermercado e sim o mercado de rua, a feira, onde havia o lugar para a verdura, para as frutas, para a carne. Eu gostava de ver como o açougueiro cortava a carte, com qual arte. Então, disse que queria ser açougueiro, depois estudei química, mas esta foi a primeira vocação.

Qual o Santo que mais admiras?
Papa Francisco: Tenho vários santos amigos, não sei a qual admiro mais, mas sou amigo de Santa Terezinha do Menino Jesus, sou amigo de Santo Inácio, sou amigo de São Francisco – eu não sei se eles são meus amigos – e admiro cada qual por alguma coisa, mas diria que são os três, talvez, que mais me chegam ao coração.

Como é ser Papa?
Papa Francisco: Me sinto tranquilo e Deus me deu a graça de não perder a paz, esta é uma graça de Deus.  E sinto que estou terminando a minha vida assim, com muita paz.  Me sinto bem por isso, porque sinto que Deus me dá paz. E também me dá alegria, por exemplo, este encontro com vocês me traz muita alegria. Quando o padre Spadaro me contou sobre isso, de convidar as crianças aqui, eu disse: “Estás louco”. Este encontro, porém, tem um grande significado, porque se fez uma ponte com cada um de vocês.

O que lhe inspirou a se tornar Papa?
Papa Francisco: Ao meu lado estava um grande amigo, um brasileiro, que hoje tem mais de oitenta anos, o cardeal Hummes, e quando viu que poderia sair a eleição neste sentido, ele me disse: Não te preocupes, assim age o Espírito Santo. Depois, quando fui eleito, ele mesmo me abraçou e me disse: Não te esqueças dos pobres. Então, este meu amigo colocou diante de mim duas personagens: o Espírito Santo e os pobres. Então, isso me moveu a aceitar e a colocar-me o nome de Francisco.

Que amor provas por Jesus Cristo, por Deus?
Papa Francisco: Eu não sei se amo verdadeiramente Jesus Cristo, procuro amá-Lo, mas tenho certeza que Ele me ama, disto tenho certeza.

Antes de ser Papa eras tão religioso como és agora?
Papa Francisco: Bom, eu sou idoso, tenho 80 anos, no final do ano. A vida de uma pessoas não é assim sempre, a vida de uma pessoa, é assim: existem momentos de alegria e existem momentos em que estás para baixo, existem momentos de grande amor a Jesus e aos companheiros, e a todas as pessoas, e existem momentos em que o amor às pessoas não existe e tu és um pouco traidor do amor de Jesus, existem momentos que te parece de ser mais santo e outros momentos em que tu és mais pecador. Mas minha vida é assim. Não te assustes se viveres um momento feio, não te assustes se pecares, o amor de Jesus é maior que tudo isso, vá até Ele, e deixa-te abraças por Ele. Entendes?

Qual é sua idade?
Papa Francisco: Tenho 79, e em dezembro, 80, não 100, como disse esse mentiroso. (Risos. Refere-se ao intérprete).

É difícil ser Papa?
Papa Francisco: É fácil e é difícil, como a vida de qualquer pessoa. É fácil porque tens muita gente que te ajuda. Por exemplo, vocês, me estão ajudando agora, porque meu coração está mais feliz e vou poder trabalhar melhor e fazer coisas melhores. E existem momentos difíceis porque as dificuldades existem em todos os trabalhos. Há as duas coisas. 

Porque te chamaste Francisco?
Papa Francisco: Chamei-me Francisco porque este cardeal brasileiro que estava ao meu lado, quando fui eleito, me abraçou e me disse: Não te esqueças dos pobres. E comecei a refletir naquele momento que tive: pobres, pobres e São Francisco de Assis. E aí escolhi o nome.

Porque vives em Roma e não em outro lugar?
Papa Francisco: Porque o Papa é o Bispo de Roma. Então, o Papa é Papa porque é o Bispo de Roma. Primeiro é Bispo de Roma, e porque é o Bispo de Roma, é o Papa. Mas o principal, o primeiro é ser Bispo de Roma.

Quantas vezes reza por dia e como?
Papa Francisco: Rezo, pela manhã, quando me levanto, o livro de orações que rezam todos os sacerdotes, que se chama “Breviário”. Depois, rezo quando celebro a missa. Depois rezo o Terço. E lhes aconselho que levem sempre um Terço com vocês, eu o carrego no bolso, depois vou lhes mostrar outra coisa. Depois, à tarde, faço Adoração do Santíssimo Sacramento. Estes são os momentos formais, mas eu gosto de rezar pelas pessoas que encontro, gosto disso. Lhes mostrei o Terço que tenho no bolso, e vou lhes dar um para cara, para que o tenham. Mas também trago no bolso – e vocês do Quênia, de Nairóbi, se lembram disso – uma Via-Sacra, que é o caminho da Cruz de Jesus, e quando vejo tudo o que Jesus sofreu, por mim e por todos nós, porque gosta muito de nós, isso me leva a ser melhor e menos ruim.

Com informações da Rádio Vaticano

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