Entre os incríveis santos do nosso tempo não faltam testemunhos particularmente surpreendentes, seja de quem entregou a vida a Deus vivendo em plenitude a sua fé no cotidiano, seja de quem enfrentou desafios extremos em nome da fé.
Dos muitos casos inspiradores, recordamos neste Dia de Todos os Santos três processos atuais de canonização: o de uma freira assassinada durante um ritual satânico, o do médico dos pobres da Venezuela e o da primeira noiva beatificada na história da Igreja.
Em junho de 2021, os sinos das igrejas de toda a diocese italiana de Como repicaram juntos para simbolizar a alegria do povo de Deus com o reconhecimento da nova beata, que havia sido covarde e selvagemente assassinada a facadas por três criminosas menores de idade, em 6 de junho de 2000, durante um ritual em que as adolescentes pretendiam oferecê-la ao diabo. A cerimônia de beatificação foi presidida pelo cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, com a participação presencial de 2.500 fiéis no estádio da cidade de Chiavenna.
A irmã Maria Laura era superiora da Comunidade das Filhas da Cruz no Instituto Maria Imaculada de Chiavenna, dedicado ao auxílio de jovens em dificuldades sociais. Ela tinha 60 anos quando sofreu o martírio. Enquanto recebia as punhaladas, a freira rezava a Deus pedindo perdão para as suas assassinas.
O nome de batismo da religiosa era Teresina Mainetti, nascida em 1939 e décima filha do casal católico Stefano Mainetti e Marcellina Gusmeroli, da região italiana da Lombardia. Entrou para a congregação das Filhas da Cruz em agosto de 1957, aos 18 anos. Dois anos depois, emitiu seus votos religiosos, adotou o nome religioso de irmã Maria Laura e começou a trabalhar como educadora em diversas escolas da congregação. Foi nomeada superiora de sua comunidade em 1987. A irmã perseverou na vocação durante 43 anos, transcorridos entre o dia da sua entrada na congregação e a noite em que entregou a vida a Deus enquanto as suas assassinas se iludiam acreditando entregá-la ao diabo.
A religiosa italiana foi assassinada com 19 facadas na noite de 6 para 7 de junho de 2000, no norte da Itália, por três criminosas menores de idade que premeditaram e executaram o ato aberrante e abominável como parte de um rito satânico. As três jovens assassinas a enganaram simulando um pedido de socorro: uma delas ligou para a irmã Maria Laura dizendo estar grávida e necessitada de auxílio. Embora passasse das 10 horas da noite, a religiosa resolveu encontrá-la por causa da aparente urgência do caso, que demandava resposta imediata.
Quando chegou ao parque no qual estava marcado o encontro, a irmã foi golpeada na cabeça e, em seguida, fragilizada e sem conseguir defender-se, foi morta a punhaladas por Milena De Giambattista (16 anos), Ambra Gianasso (17) e Veronica Pietrobelli (17). As três criminosas menores de idade perpetraram esse crime brutal, conforme a sua própria confissão, em tributo ao diabo.
As assassinas relataram que, enquanto sacrificavam a religiosa, ouviam músicas de Marilyn Manson. O ritual, porém, não saiu como elas pretendiam, já que deram 19 facadas na irmã Maria Laura, uma além das 18 que pretendiam desferir. O número tinha sido definido porque cada uma das assassinas daria 6 punhaladas, configurando juntas, assim, o símbolo 666, ao qual é associado o demônio no livro do Apocalipse.
Sobre o motivo do crime que chocou a Itália profundamente, as criminosas contaram que tinham feito um pacto de sangue entre si e com o diabo e que, em decorrência, sacrificariam a ele o pe. Ambrogio Balatti, sacerdote local. Devido à força física do padre, que provavelmente resistiria ao ataque, elas mudaram os planos e “escolheram” em seu lugar a irmã Maria Laura. As adolescentes foram julgadas e presas, e, cumprida a pena, trocaram de identidade. Não se tem informação pública sobre a sua atual localização.
Na época dos fatos, a mídia italiana divulgou um testemunho das jovens criminosas no qual declaravam que a irmã Maria Laura chegou a se ajoelhar e a juntar as mãos em oração, enquanto era esfaqueada, para implorar a Deus que perdoasse as assassinas.
Na Santa Missa que foi celebrada pelos 20 anos do assassinato da religiosa, dom Oscar Cantoni, bispo de Como, recordou sobre esta extraordinária representante dos santos do nosso tempo: “Ela se entregou a todos, de diferentes formas. Alguns meses antes da sua morte, havia escrito: ‘Precisamos estar disponíveis para todos os outros, a ponto inclusive de dar a vida como Jesus’”.
Outra surpreendente representante dos santos do nosso tempo é a jovem Sandra Sabattini, falecida aos 22 anos e beatificada há poucos dias, em 24 de outubro de 2021, também pelo cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
O cardeal presidiu a Santa Missa de beatificação na Basílica Catedral de Santa Colomba, em Rímini, cidade italiana onde nasceu em 19 de agosto de 1961 a jovem que partiu deste mundo em 1984, aos 22 anos de idade, atropelada por um carro em alta velocidade.
A jovem leiga se preparava para o sacramento do matrimônio com Guido Rossi quando sofreu o atropelamento e, infelizmente, não resistiu. Ela e o futuro esposo pretendiam mudar-se para a África a fim de fundar uma comunidade católica a serviço dos “últimos entre os últimos”.
Quando Sandra tinha 4 anos, sua família se transferiu para a casa paroquial de San Girolamo, cujo pároco, o pe. Giuseppe Bonini, era irmão de sua mãe. Adolescente, Sandra passou a manter um diário pessoal a partir de janeiro de 1972. Três anos depois, conheceu o padre Oreste Benzi, fundador da Comunidade Papa João XXIII, e seu carisma de servir aos “últimos da sociedade”. A jovem tornou-se parte da comunidade. Foi o pe. Oreste, aliás, quem começou a promover a causa de beatificação de Sandra, cujo testemunho de vida, a seu ver, precisava constar entre o dos santos do nosso tempo.
A hoje beata cursava Medicina e, como voluntária, atendia pessoas doentes. Além disso, todos os dias rezava o terço e meditava sobre a Palavra de Deus, alimentando uma profunda vida espiritual. Na virada de cada ano, costumava fazer oração da meia-noite à 1h da manhã perante o Santíssimo Sacramento.
Sandra tinha 20 anos quando conheceu Guido Rossi, que tinha os mesmos propósitos de Sandra. Guido e ela noivaram. Em 29 de abril de 1984, os noivos se dirigiam a mais um encontro da Comunidade Papa João XXIII. Quando Sandra desceu do carro e aguardava para atravessar a rua, um veículo que vinha na direção contrária a atropelou. Ela foi rapidamente socorrida e levada a um hospital de Bolonha, mas não pôde resistir às consequências do impacto brutal e entregou a alma a Deus no dia 2 de maio.
Em 19 de julho de 2007, um homem italiano de 41 anos, Stefano Vitali, viu-se curado inexplicavalmente de um câncer em metástase, após ter rezado por intercessão de Sandra. Ele relatou a sua história no livro “Eu vivo por um milagre”, publicado em italiano e ainda sem tradução oficial para o português. O testemunho de Stefano foi bastante divulgado. Em uma das entrevistas, ele afirmou que a sua cura não foi somente física, mas principalmente espiritual, já que o exemplo de vida de Sandra lhe apontou “o caminho para alcançar a serenidade e realizar a minha vocação”.
E completou, a respeito da primeira noiva em processo de canonização na história da Igreja: “Se ela conseguiu isto comigo, que sou teimoso, mais ainda conseguirá com tantos que vierem a encontrá-la no futuro”.
Na homilia da Missa de beatificação, o cardeal Semeraro recordou uma ocasião em que Sandra relatara à mãe a experiência de servir às pessoas com deficiência na Comunidade Papa João XXIII. A então adolescente de 13 anos afirmou: “Demos tudo de nós. São pessoas que eu nunca vou abandonar”. O cardeal comentou, observando que o desejo de Sandra de servir aos pobres era fruto do amor sem limites de Deus, em cujo mar “sem fundo e sem margens” ela “havia mergulhado o coração”: “Amar é carregar o sofrimento do outro”.
Os santos do nosso tempo permeiam com abundância todo o último século; em alguns casos, o processo de canonização vai mais rápido, em outros precisa de mais tempo devido às rigorosas etapas que a Igreja segue. No caso do “Médico dos Pobres”, passaram-se quase 102 anos entre o seu falecimento e a sua beatificação.
O dr. José Gregorio Hernández Cisneros é conhecido na Venezuela como “O Médico dos Pobres” porque dedicou a vida inteira ao serviço dos mais necessitados. Nascido em Isnotú em 26 de outubro de 1864, ele foi reconhecido não só como um grande médico, mas também como cientista, pensador e fervoroso católico que, abertamente, colocava nas mãos de Deus toda a sua ação profissional e humana.
Em 29 de junho de 1919, o doutor foi até uma farmácia em Caracas a fim de comprar um remédio para um paciente idoso que acabara de visitar. Ao sair, o médico dos pobres foi atropelado por um dos raros veículos que circulavam na época. Socorrido rapidamente, foi levado ao hospital e teve tempo de receber a Unção dos Enfermos, mas, não resistindo às consequências do impacto, acabou falecendo pouco depois.
A Santa Sé reconheceu em abril de 2020 um milagre atribuído à intercessão do dr. Hernández. Em 19 de junho, o Papa Francisco autorizou a Congregação das Causas dos Santos a dar andamento ao processo de beatificação. Os restos mortais do dr. Hernández voltaram a ser exumados em 26 de outubro de 2020. Seu túmulo no Cemitério Geral de Caracas costuma ser visitado por grande número de devotos.
O dr. Hernández foi beatificado na Venezuela em 30 de abril de 2021. A Celebração Eucarística da cerimônia de beatificação foi presidida pelo cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano e ex-núncio apostólico na Venezuela. O local da cerimônia foi a igreja da Escola De La Salle, em Caracas, na mesma área da capital venezuelana em que o “Médico dos Pobres” mais atuava.
Esteve presente na Missa a jovem Yaxury Solorzano, que recebeu o milagre por intercessão do então venerável José Gregorio Hernández. Participaram ainda familiares do novo beato, um pequeno grupo de médicos e três pessoas portadoras de deficiências, que representaram todos os doentes devotos do “Médico dos Pobres”. Ainda durante a cerimônia foi apresentada para veneração uma relíquia de primeiro grau do novo beato: trata-se de fragmentos de ossos do dr. Hernández. Na manhã da beatificação, tanto antes quanto depois da cerimônia, todas as dioceses da Venezuela repicarão os sinos de cada templo.
Incríveis santos do nosso tempo
Literalmente graças a Deus, os santos do nosso tempo são abundantes e nos recordam que todos nós somos chamados à santidade. Parece difícil? E é mesmo. Mas é simples. Saiba como, clicando aqui.
FONTE: Aleteia
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