Da mesma maneira que Dom Carlos Forbin Janson, fundador da Infância Missionária, tomarei como ponto de partida nesta edição a China, um dos maiores países do mundo, com uma população também grandiosa. Neste país uma pesquisa feita nos últimos 25 anos, apresentou registros de abusos na infância como uma prática bastante disseminada. Entre os 3.500 adolescentes pesquisados, 50% dos meninos e cerca de 33% das meninas sofreram algum tipo de agressão na infância. Esta pesquisa, financiada em parte pelo UNICEF, demonstrou na relação entre abuso infantil e saúde mental que as crianças maltratadas têm uma maior propensão a se tornarem alcoólatras ou a adotarem um comportamento violento. Em nosso país a violência e o abuso contra nossas crianças ainda é freqüentemente silenciado, tanto pela família, quanto pelos vizinhos, médicos e educadores, conseqüência dessa omissão são as nossas crianças marcadas irreversivelmente.
Uma das situações mais preocupantes em nosso meio são as crianças e adolescentes explorados sexualmente. Esse fato agrava-se principalmente na região fronteiriça onde o controle e fiscalização são desafios para o poder público. Dados coletados por um grupo de pesquisa da Universidade de Brasília falam de 104 municípios fronteiriços, onde este crime já possui o caráter transnacional, como por exemplo, Oiapoque, no Amapá e Foz do Iguaçu, no Paraná e sua tríplice fronteira. Na verdade, nesta pesquisa consta um número bem maior de municípios onde foram detectadas redes de exploração sexual de crianças e adolescentes comercialmente. Estas redes de turismo sexual costumam agir principalmente no interior dos estados, onde “recrutam” suas vítimas. Dos municípios envolvidos, 31,8% são da região Nordeste, 25,7% do Sudeste, 17,3% da região Sul, 13,6% do Centro-Oeste e 11,6% da região Norte, contando ainda com crianças e adolescentes beneficiários de programas sociais. Um crime silencioso e da mesma maneira assustador é o de pedofilia na rede mundial de computadores, amplamente divulgado na mídia.
O povo é santuário de Deus (Sl 114)
A vida nos coloca um desafio a cada dia: as nossas crianças e adolescentes em qualquer situação são os pequeninos do Reino de Deus Pai-Mãe. Elas esperam com ternura uma sociedade fraterna e igualitária, construída a partir dos adultos. Jesus dedicou muito carinho e atenção às crianças do seu tempo, uma vez que as mesmas eram tidas como inferiores: “quem receber em meu nome uma destas crianças, estará recebendo a mim. E quem me receber, não estará recebendo a mim, mas Àquele que me enviou. (…) E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam, seria melhor que fosse jogado ao mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço” (Mc 9, 37 e 42).
O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu 4º artigo reforça como “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, (…) à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990). A exemplo de Dom Carlos Janson devemos assumir esta causa e defender as nossas crianças daqueles que roubam o que elas têm de mais precioso: a infância. A IM nasceu da necessidade e da triste realidade que enfrentavam as crianças chinesas, como todos sabem. As crianças e adolescentes brasileiras esperam concretamente uma atitude nossa, junto aos Conselhos Municipais de Segurança, denunciando este crime e buscando políticas públicas eficazes no combate à exploração sexual e na criação de projetos sociais de combate à pobreza. Nas palavras de Dom Carlos, o protagonismo das nossas crianças nos mostra que um outro mundo é possível sim!
Das crianças do mundo – sempre amigas!
Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da rede pública do Paraná.
FONTE: http://www.consolata.org.br
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