As crianças são missionárias


Antes de deixar a Zâmbia e voltar para Portugal, o Pe. Carlos Nunes participou na primeira peregrinação da Infância Missionária ao santuário mariano de Lusaca, a capital zambiana. Mais de 3500 crianças gritaram com entusiasmo: «Todos somos missionários!»

Durante a homilia da Eucaristia, o Pe. Timothy Lehane, secretário-geral das Obras Missionárias Pontifícias, que viajou de propósito de Roma para Lusaca, chamou-me e perguntou-me:
Pe. Carlos, tu és o encarregado da Infância Missionária na Zâmbia. Diz-me como é que estas crianças são missionárias...

Eu respondi imediatamente:
Elas rezam umas pelas outras, falam de Jesus aos outros, ajudam os que precisam... e cantam e dançam muito bem, vivem com alegria!...

O Pe. Timothy exclamou:
– Oh! São crianças maravilhosas, são missionários de verdade!

Uma bota…
Depois, o Pe. Timothy contou a história do Manuel, uma criança muito pobre que tinha conhecido no Equador, quando trabalhou neste país latino-americano como missionário:
Era o dia da Epifania, em que celebramos a festa da Infância Missionária e pedimos a todos que mostrem que são missionários. Todos têm de oferecer qualquer coisa para ajudar outras crianças mais necessitadas! O Manuel estava na missa, ponderou o que podia oferecer, mas não tinha nada... Até que pensou: «Ah! Eu tenho duas botas, vou dar uma para outro menino!» E assim fez. No ofertório, tirou uma bota, chegou junto do altar e disse: «Eu tenho duas botas, dou uma para outro menino.» Todos ficaram admirados. Alguns riam-se. O Manuel era um menino generoso e nem pensou que não podia caminhar só com uma bota.

Levando outros a Jesus
Numa paróquia em Lusaca decidiram começar a Infância Missionária. O pároco organizou uma missa só para as crianças que quisessem integrar o movimento. Chamou as crianças da catequese e disse-lhes:
No próximo sábado, convidem os vossos amigos e amigas para virem à missa. Vamos começar a Infância Missionária. Vocês vão cantar, ler, proclamar as orações e depois fazemos uma festa. Cada um de vocês tem de trazer pela mão pelo menos um amigo ou uma amiga...

Quando o sábado chegou, ainda muito cedo, muito antes da hora da missa, começaram a chegar ao portão muitos meninos e meninas de mãos dadas... Iam para a missa... Só que alguns iam sujos, descalços, mal vestidos. Outros não eram católicos, mas pertenciam a outras Igrejas e religiões. Todos vinham para a missa, chamados pelos amigos missionários. Muitos nem sabiam o que era a missa, mas todos estavam alegres por irem juntos à igreja. E a festa começou...

Missionários, rezando pelos outros
No dia da nossa peregrinação a Lusaca, no programa da tarde constava rezar o Terço Missionário organizado pela Infância Missionária.

Estavam presentes mais de 3500 crianças no recinto do santuário mariano. Após a missa, fez-se o almoço. E seguiu-se o convívio, com danças e canções preparadas por grupos de diversas paróquias. Quando chegou a hora do Terço Missionário, pensei para comigo: «Agora não vai ser possível fazer silêncio para rezarmos.» Mas, pouco a pouco, todos ficaram em silêncio, sabendo que era a hora de rezar.

Em grupos que congregavam várias paróquias, as crianças tinham preparado um mistério do rosário. Em cada dezena, rezava-se por um dos cinco continentes.

E as crianças foram para mim o maior exemplo de fé e de satisfação ao rezar. Alguns grupos da Infância Missionária já rezam o Terço Missionário nas comunidades deles e nas Igrejas durante o ano e especialmente no mês de Outubro, o mês missionário!

Missionário com a Infância Missionária
Tenho 54 anos e cabelos brancos... Nos últimos três anos, fui diretor das Obras Missionárias Pontifícias (OMP) na arquidiocese de Lusaca. As POM são quatro organismos que ajudam a Igreja a ser mais missionária: a Infância Missionária; a Obra de São Pedro Apóstolo; a União de Clero e Religiosos e, por fim, a Obra de Propagação da Fé, que envolve todos os cristãos.

A Infância Missionária é o organismo com que gostei mais de trabalhar. É a mais ativa em Lusaca. São milhares as crianças inscritas nas várias paróquias. São centenas os animadores e as animadoras que dedicam muito do seu tempo e energias para ensinar e animar as crianças a conhecer outras de outros países, a rezar por elas e a partilhar com elas.

Eu até fiquei mais jovem ao trabalhar com a Infância Missionária. As crianças ensinaram-me a rezar, a cantar, a jogar, a partilhar, a fazer festa!

Epifania: Festa da Infância Missionária
Já tenho saudades da Infância Missionária de Lusaca. As crianças animam os momentos de oração nas paróquias da Zâmbia.

Espero, agora, encontrar crianças missionárias em Portugal!

Ainda ouço as vozes jovens a gritar em Lusaca «Todos somos missionários», em bom português, além de em inglês, cinyanja e chibemba, as línguas deles.

Volto a Portugal depois de 21 anos em África. Estou ansioso por conhecer a Infância Missionária em Portugal. Tenho a certeza de que também as crianças portuguesas são missionárias pela oração, pela ajuda fraterna, pela alegria de serem amigos de Jesus...

E você, como vai viver ou como viveu a festa da Epifania, a festa mundial da Infância Missionária?

Pe. Carlos Nunes
Revista Audácia (Portugal) - Janeiro de 2011

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