Houve um tempo em que ouvíamos nossas crianças, adolescentes e até adultos repetindo o refrão de uma música que falava assim: "um tapinha não dói, só um tapinha!", legitimando assim o "dar um tapinha", como se apanhar ou bater não tivesse a menor importância. Dessa maneira, aprendemos a ver como fato normal a relação violenta principalmente entre adultos e crianças, iniciada com um "inocente" tapinha, seguida por uma variedade de violência doméstica, fechada e silenciada. O pior de tudo isso, é que a prática da violência física contra a criança é vista pelo agressor como uma atitude correia.
Não se trata de apoiar a prática do não-disciplinar as nossas crianças e adolescentes, pelo contrário, sabemos que faz parte da aprendizagem infantil os limites, saber o que é ou não é permitido. Porém, não podemos nos calar diante da triste realidade que muitas crianças brasileiras vêm passando.
Segundo a Sociedade Internacional de Prevenção ao Abuso e Negligência na Infância, 12% das 55,6 milhões de crianças brasileiras menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de violência doméstica por ano. Trocando em miúdos, são 6,6 milhões de crianças por ano ou 12 crianças agredidas por minuto, 750 crianças por hora. É um quadro realmente assustador, porque a agressão acontece no seio familiar, maquiando muitas vezes um distúrbio psicológico grave do agressor ou uma rejeição à criança, quando a mesma foge das expectativas dos pais. A faixa etária dos 7 aos 13 anos é a mais atingida pela violência física, sendo que a idade média entre as meninas atingidas é de 10 anos e entre os meninos 8 anos.
Esse é um tema bastante delicado, porém, o que fazer quando percebemos que crianças indefesas continuam sofrendo e às vezes estão bem perto da gente? É uma relação afetiva e ao mesmo tempo uma relação de poder desigual entre familiares (de um lado o adulto agressor, seja ele parente ou mesmo 'guardião' e de outro, a criança, vítima).
Jesus em seu tempo, sempre manifestou uma atenção especial com as crianças, apontando para elas em várias situações: "Eu lhes garanto: se vocês não se converterem, e não se tornarem como crianças, nunca entrarão no Reino do Céu. Quem se abaixa, e se torna como essa criança, esse é o maior no Reino do Céu. E quem recebe em meu nome uma criança como esta, é a mim que recebe. Quem escandalizar um desses pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele pendurar uma pedra de moinho no pescoço, e ser jogado no fundo do mar" (Mt 18, 3-6). Esta é uma das nossas opções como missionárias e missionários nos dias de hoje: a defesa das crianças e adolescentes agredidos fisicamente.
De todas as crianças do mundo, sempre amigos!
Roseane de Araújo Silva
Missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná
Sugestão para Grupo
- Acolhida
- Motivação (objetivo): refletir com as crianças a realidade da agressão física contra crianças e adolescentes.
- Oração: rezemos por todas as crianças que sofrem alguma violência e não conseguem ser felizes em sua vida de criança ou adolescente.
- Partilha dos compromissos semanais.
- Leitura da Palavra de Deus: Atos dos Apóstolos 3, 1-8 - O nome de Jesus liberta
- Compromissos missionários: Ao refletirmos juntos o testemunho dos discípulos Pedro e João, façamos também um gesto concreto em favor das crianças e adolescentes. Vamos conhecer um pouco mais a realidade destas crianças agredidas fisicamente? Através de jornais e revistas faremos um trabalho de colagem, organizando um mural na capela ou na paróquia retratando a realidade das crianças e adolescentes que são agredidos e as ações realizadas em defesa destes pequenos em nossa cidade e em nosso país. É necessário consultar também, durante a semana, o Conselho Tutelar mais próximo da comunidade para colher informações.
- Momento de agradecimento a Deus Pai.
- Canto e despedida.
FONTE: Revista Missões - Junho 2006
0 Comentários