Talvez você ainda não tenha parado para pensar em um fato bastante comum, mas que acaba desapercebido dos nossos olhares desatentos. Desde cedo, sem que o saibam na maioria das vezes, os pais matriculam suas crianças em um curso de teologia prática intensiva. Essa informação, a princípio, pode soar estranha, mas é a mais pura verdade. Quando um pai diz ao seu filho, por exemplo: “Filho, se você não comer toda a comida o Papai do céu vai ficar zangado com você”, ou então: “Filha, se você não fizer a lição de casa, o Papai do céu irá te castigar”, o pai está, em última análise, ensinando teologia para a criança. Ou melhor, está ensinando uma teologia onde a imagem de Deus é grandemente distorcida e desvirtuada. Em outras palavras, é como se o pai lhe dissesse: “filho (a), Deus é um Pai chato, ranzinza, carrasco e severo, que vive sempre procurando alguma falha para nos punir”.
Por outro lado, sempre que a criança apronta algo e os seus pais a “repreendem” em um tom paradoxalmente simpático de aprovação, dizendo: “filho (a), vê se fica quieto (a)! Você parece um (a) capetinha!”, tal frase pode representar na mentalidade ainda em formação da criança o seguinte: “filho (a), o capeta (diabo) é arteiro, brincalhão e bagunceiro”. Dito de outra maneira: “O capeta não é tão ruim como o pintam. Ele até que é um sujeito bem legal!”.
Além disso, de acordo com estudos psicológicos, sabe-se que a criança tende a ver o lado paterno de Deus (Deus como Pai) por meio da lente comportamental de seu pai biológico. Isso significa dizer, por exemplo, que se um pai vive maltratando o seu filho, a tendência da criança será transferir esse aspecto relacional negativo experimentado com o seu pai biológico para a figura teológica de Deus como Pai. Tal fato poderá desencadear na criança um bloqueio na sua relação filial com Deus, fazendo-a sentir sérias dificuldades psicológicas em aceitar Deus como Pai amoroso, compassivo e carinhoso. A partir dessas considerações, precisamos nos perguntar: Como é que nós, assessores da IAM, catequistas, pais e responsáveis, nos relacionamos com as nossas crianças? Que imagem paterna de Deus estamos ajudando a formar em nossas crianças?
Ora, diante desse preocupante quadro penso que cabe a cada educador na fé reavaliar a sua postura comportamental para com a criança, bem como questionar-se sobre a qualidade do papel educador que ele tem desempenhado no contexto doméstico e fora dele. Que os responsáveis continuarão a ensinar teologia aos seus infantes, isso está bem claro. Porém, que tipo de teologia prática os educadores na fé continuarão a ensinar as suas crianças? De acordo com a resposta dada a tal questão, estaremos fazendo o preparo de dois tipos de pessoas adultas: aquelas que terão prazer de chamar a Deus de “Abba” (paizinho), pois se veem a si mesmos naturalmente como “filhos e filhas de Deus”, ou aquelas que apenas O conhecerão como “Senhor”, porque se enxergam unicamente como “servos (as) de Deus”, e não como filhos (as).
Pe. André Luiz de Negreiros,
Secretário Nacional da Pontifícia Obra da IAM.
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