Nossa fé, nosso seguimento a Jesus, exige de nós um jeito novo de viver e conviver em família, em comunidade, em sociedade. Devemos pautar nossa vida pela vida de Jesus. Por isso, somos chamados a superar toda forma de violência.
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2018 tem como tema: Fraternidade e superação da violência e o lema: em Cristo somos todos irmãos (Mt 23,8). O objetivo da Campanha da Fraternidade é promover a cultura da paz, da reconciliação e da justiça a luz da Palavra de Deus para superar a violência.
Estamos iniciando o período quaresmal, tempo propicio à conversão, à fraternidade e à mudança. Buscar novas maneiras de vivenciar a fé, e, sobretudo, superar todo tipo de violência. Temos que renunciar à guerra, seja de palavras, de confrontos, atitudes maldosas, preconceitos, intolerância, não podemos mais conhecer a proposta de Jesus Cristo e viver somente de acordo com a vontade pessoal.
Em 1983 o tema da CF foi “Fraternidade e Violência” e em 2009 o tema apresentado abordou “Fraternidade e Segurança Pública”. A violência no Brasil cresceu assustadoramente nos últimos vinte anos. A CNBB através da Campanha da Fraternidade afirma: “Apesar de possuir menos de 3% da população mundial, nosso país responde por quase 13% dos assassinatos no planeta”. Em 2014, “o Brasil chegou ao topo do ranking, considerado o número absoluto dos homicídios”. Foram 59.627 mortes, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), (cf. CF, p.15).
A CF deste ano afirma que: “O narcotráfico movimenta mais de 400 bilhões de dólares por ano, sendo um dos setores mais lucrativos da economia mundial. A guerra às drogas criminaliza o pequeno varejista e o usuário e favorece aos grandes empresários de drogas e o sistema financeiro internacional. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2008, cerca de 352 bilhões de dólares do comércio de drogas foram absorvidos pelo sistema bancário do planeta” (cf. op. cit. p.37). Dados da Secretaria Nacional Antidrogas e do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes indicam que no Brasil há entre 20 e 30 milhões de viciados em álcool, contra 870 mil dependentes de cocaína (cf. op. cit. No. 108).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil através da Campanha da Fraternidade deste ano afirma que “o combate às drogas tornou-se uma ação articulada por vários países utilizando-se de uma estratégia de guerra, camuflada de política de segurança pública, com outras políticas de criminalização de pobres, negros e usuários, resultando na ocultação e proteção daquelas que produzem e distribuem as drogas, ou seja, os barões desse comércio internacional” (cf. op. cit. No. 110, p. 37).
O texto-base da CF afirma: “O impacto do aprisionamento em massa decorrente do tráfico de drogas se tornou um problema mundial devido a guerra às drogas. Segundo a London School of Economics, 40% dos nove milhões de presos em todo o mundo foram aprisionados em razão do comércio e de uso de substâncias consideradas ilícitas” (cf. op. cit. P, 38). Este trecho do texto-Base termina com as seguintes estatísticas do Departamento Penitenciário (Depen) que causa preocupação: “67% dos presos no Brasil são negros, 56% têm entre 18 e 29 anos de idade, e 53% não completaram sequer o Ensino Fundamental. No caso de encarceramento feminino 63% das mulheres estão presas por tráfico de drogas” (cf. No. 114 do op. cit.).
No acompanhamento aos usuários de drogas, a Igreja Católica e suas entidades que trabalham neste sentido estarão sempre ao lado do dependente para ajudá-lo a recuperar sua autoestima e vencer esta enfermidade.
Porém, os jovens são as maiores vítimas de homicídios no Brasil, e, ainda cresce assustadoramente a cultura da violência, sede de vingança, injustiça, terrorismo, racismo, alcoolismo, drogas, violência doméstica, violência no trânsito, dentre tantos tipos de violência, injustiça, conflitos. Vivemos a falta de diálogo, de respeito, de misericórdia, de perdão e de dignidade humana.
É necessário que aconteça a busca da paz, da justiça, e estas ocorrerem efetivamente, não é mais possível suportar tanta violência, precisamos unir forças para combater toda espécie de violência. Devemos vivenciar a ligação entre a Palavra de Deus e as nossas ações, conhecer, ensinar, mas, principalmente, viver o que evangelizamos.
Jesus pede aos discípulos para não professarem uma fé de aparências ou de projeção social, mas, cultivar uma fé prática, que transforme em fraternidade, somos todos irmãos (Mt 23,8). Jesus quer de nós, seus seguidores, que aprendamos dele um jeito novo de viver. Ele não veio trazer uma teoria, ou um ensinamento novo. Ele veio trazer um novo jeito de viver.
Nossa fé, nosso seguimento a Jesus, exige de nós um jeito novo de viver e conviver em família, em comunidade, em sociedade. Devemos pautar nossa vida pela vida de Jesus. Por isso, somos chamados a superar toda forma de violência.
É preciso que sejamos praticantes da palavra e que aprendamos a viver como irmãos. Os objetivos da Campanha da Fraternidade orientam-nos em nosso agir em conformidade com o anuncio da Boa Nova da Fraternidade e da Paz, estimulando ações concretas que expressem a conversão e a reconciliação no espírito quaresmal; analisar as múltiplas formas de violência considerando suas causas e consequências na sociedade brasileira especialmente as provocadas pelo tráfico de drogas; identificar o alcance da violência nas realidades urbana e rural de nosso país propondo caminhos de superação a partir do diálogo, da misericórdia e da justiça em sintonia com Ensino Social da Igreja; valorizar a família e a escola como espaço de convivência fraterna de educação para a base de testemunho do amor e do perdão; identificar, acompanhar e reivindicar políticas públicas de superação da desigualdade social e da violência; estimular as comunidades cristãs, pastorais, associações religiosas e movimentos eclesiais ao compromisso com ações que levem a superação da violência; apoiar os centros de direitos humanos, comissões de justiça e paz, conselhos paritários de direitos e organizações da sociedade civil afins.
O Papa Francisco nos lembra que “enquanto o século passado foi arrasado por duas guerras mundiais devastadoras, conheceu a ameaça de guerra nuclear e um grande numero de outros conflitos, hoje, infelizmente, encontramo-nos a braços com uma terrível guerra mundial aos pedaços. (…) Esta violência que se exerce aos pedaços, de maneira diferentes e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes: guerras em diferentes países e continentes, terrorismo, criminalidade e ataques armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico humano; a devastação ambiental.
Na mensagem para o dia mundial da paz em 2017, o Papa Francisco reforçou: “A igreja comprometeu-se na implementação de estratégias não-violentas para promover a paz em muitos países solicitando, inclusive aos intervenientes mais violentos, esforços para construir uma paz justa e duradoura.
Este compromisso a favor das vítimas da injustiça e da violência não é patrimônio exclusivo da igreja católica, mas pertence a toda a humanidade, especialmente para quem a compaixão e a não-violência são essenciais e indicam o caminho da vida.
O Sermão da Montanha (Mt 5,7) mostra a maneira de ser e agir de Jesus, Jesus é o mestre que aponta o caminho e apresenta oito bem-aventuranças. Como discípulos-missionários, devemos buscar seguir algumas dessas bem-aventuranças e tornarmos sal da terra e luz do mundo.
A Campanha da Fraternidade 2018 vem nos despertar para o fato de que o sangue das vitimas continua a clamar a Deus e não podemos deixar que a violência, a vingança, a injustiça, tome conta de nós. Somos seguidores do Deus da vida. Temos a missão de defender e proteger a vida ameaçada e de buscar superar toda forma de violência e injustiça.
Todos somos convidados a abraçar com carinho, dedicação, amor, compromisso essa Campanha da Fraternidade 2018 para que ela possa produzir os frutos que a Igreja deseja e que nossa sociedade precisa e que saibamos nos unirmos para avançarmos juntos na busca de superação da violência.
FONTE: CEBs do Brasil
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